quarta-feira, 22 de maio de 2013

A GUARITA MILAGROSA DA COXILHA RICA

CORREDOR DAS TROPAS NA COXILHA RICA SENTIDO SUL-NORTE  

SEDE DA FAZENDA GUARDA MOR COM VIDAL RAMOS SENIOR
 NA JANELA À ESQUERDA NO ANDAR DE CIMA



A escolha de Mateus como apóstolo de Jesus causou desconforto nos demais. Onde já se viu chamar um famigerado coletor de impostos para tarefa tão nobre? Ninguém gosta de pagar imposto. Ninguém gosta de fiscal, nem de auditor, nem de cobrador!


O Capitão Mor Correia Pinto escolheu a dedo seu braço direito, Capitão Bento Gurgel, seu sucessor na boléia de Lages, para uma tarefa muito especial: cuidar da Guarita Imperial do Passo de Santa Vitória, onde os tropeiros encostavam o umbigo e esvaziavam a guaiaca no pagamento do ICMS e outros tributos e das enormes tarifas aduaneiras para entrar no sagrado solo catarinense.  Pagando a conta ele poderia receber as bênçãos de São Mateus e o salvo conduto para seguir em frente com sua tropa rumo ao Eldorado Paulista, a Meca dos Tropeiros, a cobiçada Sorocaba, bolsa de valores do mercado de animais de então.

  
Até que chegou o dia derradeiro de Bento Gurgel e sua viúva tomou conta do pedaço. Como toda viúva que quer dar a volta por cima, logo se ocupou de fazer uma reforma na cobiçada guarita – ali era recolhido imposto em on, em off, em cabeças de gado, patacas de ouro, etc. – e contratou o carpinteiro/tropeiro Laureano José de Ramos para a tarefa. Simplificando o causo, logo Laureano deixou de ser carpinteiro/tropeiro para se tornar um dos maiores fazendeiros da Coxilha Rica, comprou a própria Fazenda Guarda Mor da viúva, com Guarita e tudo mais, anexou a ela terras devolutas, e foi comprando terra como ninguém tinha visto algo assim antes. Logo seu filho caçula Vidalzão (O Vidal Sênior) era o representante imperial em toda a Serra Catarinense, dando início a uma oligarquia que haveria de mandar e desmandar em Santa Catarina por quase dois séculos.


Não consta que Laureano tenha chegado com tamanha fortuna para fazer a reforma na Guarita, além de suas ferramentas de ofício. Eis aí o primeiro milagre coxilhim. As águas do Pelotas tinham um poder magnífico de transformar pobre em rico em pouquíssimo tempo. Quem o atravessasse teria uma “santa vitória” econômico-financeira, a sonhada prosperidade garantida. Bastava ter a chave do cofre imperial e a esperteza peculiar a qualquer coletor de impostos. Desde os idos tempos de Mateus!



COMENTÁRIOS:

Olá Primo!

É sempre divertida a leitura de seus artigos e fácil encontrar o (os) alvos de suas "dizeduras" .

Ficção à parte, ao menos a mim causam "incômodos de ansiedade" a detecção de diversos equívocos, maldizeres e mitos que foram  construídos e perpetuados à margem da verdade histórica de nossa terra e de nossa gente. É pena, pois o leitor mal informado pode proseguir perpetuando os equívocos e nào alcança todo o potencial de criaçào do texto que se propõe à ironia. Quem desconhece a história não tem subsídios para uma releitura crítica da história a partir dos textos que você constroe.

Existem diversas informaçòes neste texto de hoje, que eu gostaria de saber onde você obteve:

a) Que Bento do Amaral Gurgel estivese alguma vez à frente do Passo de Santa Vitória.

b) Que Correia Pinto tinha poderes para escolher/designar o responsável pelo Passo de Santa Vitória ( autoridade para o recolhimento de impostos).

 e) Que Laureano comprou a Fazenda Guarda Mor ( e ainda mais, que a tenha comprado da viuva de Bento do Amaral Gurgel).

f) Que Laureano tenha comprado/possuido outras fazendas além da Guarda Mor.

g) Que Laureano tenha sido um dos grandes propietários de terras de Lages.

h) Que Laureano tivesse exercido ofício de carpinteiro (que esta tivesse sido uma das formas de seu sustento ainda que secundáriamente)

i) Qua alguém da N Sra dos Prazeres das Lages tenha enriquecido com atividades ligadas à arrecadação de impostos nos antigos "Passos".

Para cada um dos itens acima que você me informar a fonte de  onde tirou suas informaçoes (para construir o seu artigo) eu prometo retornar um pequeno texto com as minhas fontes e respectivas "antigas e esquecidas verdades", ok?

Eu, de minha parte, nào creditaria "milagres"de prosperidade lá na Coxilha Rica a São Mateus.  Os principais créditos eu daria a Santo Antonio (casamenteiro) e a São Francisco (protetor dos animais).

Oi Prima,

Tudo na santa paz?

Vamos às fontes: A maioria das ironias foram baseadas na revista e no livro ilustrados Abra e Ache, editados José Gualberto G Costa acerca da Coxilha Rica. A maioria ds textos são do Procurador da República Nazareno J Wolff (fazendeiro da Coxilha e dono do Shopping em construção na BR 282) com base em dados fornecidos pela D. Lia Ramos (Turismo). Os versos são do Coronel Tiarajú (Ex-10º BEC e Ex-Secretaria de Obras de Lages) e as fotos de Márcio Ávila, Eliane Wolff e do próprio Nazareno.

Não conheci o José Gualberto, mas os demais escribas e suas fontes são portadores de, digamos, fé pública. As demais fontes foram o Volume II de Genealogia Tropeira e as informações que você me repassou sobre nossos antepassados. Juntei vários fragmentos e não tenho a mínima preocupação com o rigor histórico. Isso é tarefa para hiotoriadores e genealogistas. Eu sou apenas um crítico e humorista. Tenho dito. Amém!

Acaso você não tenha essa revista e esse livro ilustrados posso enviar-lhe uma cópia. Já os procurei para aquele amigo meu lá de Santarém e não os localizei nem no Sebo Marechal. É só me pedir.

Não existe milagre de nenhum santo. Usar o nome desses santos é apenas força de expressão textual para chamar atenção. A maioria dos meus leitores são místicos, como mística é a maioria da população mundial. É de domínio público o enriquecimento de fiscais e coletores de impostos em geral. Lá no Passo de Santa Vitória seria diferente? Basta ver a existência das mais de 80 Fazendas Antigas ao longo do Corredor das Tropas e suas ramificações. De onde saiu o $$$$ para fazer tudo aquilo?  

Bom domingo e boa semana!

José Carlos      

Então primo, aos fatos e documentos,

Quanto aos Registros e coleta de impostos de transporte de gados e outras mercadorias: Eram arrematados publicamente, na sede das respectivas Capitanias pois vencia quem oferecesse o maior valor e tivesse "cacife" para também pagar a vultuosa fiança que era exigida nestes casos. Em Lages sempre foram arrematantes pessoas de fora, sem ingerencias de Correia Pinto ou de  Bento do Amaral Gurgel. Ao menos até 1820 enquanto Lages pertencia a São Paulo e que é meu período de pesquisas. Depois de 1820 pouco sei sobre o assunto impostos mas já entào passaram a existir as Coletorias tocadas por funcionários públicos.

Estou preparando um texto que relata quem foram os arrematastes , por ordem cronológica, destes antigos mais antigos Registros de Lages e arredores (Santa Vitória, São Jorge, Castelo, Patrulha, etc..).

Um dos melhores trabalhos de pesquisa (em doctos originais) já realizados sobre estes Registros e que cita inclusive alguns dos nossos de Lages  é o do link abaixo, que muito recomendo a leitura.  A leitura deste material atende a respostas  para os item "a", "b" e i" " do meu e-mail anterior.


Miranda,Marcia Eckert.. A estalagem e o império: crise do Antigo Regime, fiscalidade e fronteira na Província de São Pedro (1808-1831). Campinas,SP: [s/n], 2006. Tese (doutorado) - Universidade federal de Campinas, Intituto de Economia.".
p.82
"No entanto, esse predomínio de contratadores não residentes não significou a exclusão completa dos negociantes da Capitania de São Pedro das rematações, ainda que em sociedade com negociantes sediados no Rio de Janeiro. Esse foi o caso do Capitão Manuel Antônio de Araújo, morador de Porto Alegre, que rematou o contrato dos Registros de Viamão e de São Jorge das Lages entre 1776-1781 e dos registros de Viamão e Santa Vitóra no triênio de 1782-1784 em sociedade com o Capitão Manuel de Araújo Gomes e com o Dr. Lourenço Ferreira Ribeiro. No triênio de 1803 a 1805, outros residentes na capitania, o Capitão André Álvares Pereira Viana e o Capitão Antônio José Martins Bastos remataram o contrato dos registros em sociedade com dois comerciantes do Rio de Janeiro.."."

Eu ëngoli os itens c e d no meu e-mail.

Para o item "e" a resposta é a seguinte:

Laureano não comprou a Guarda Mor, e óbvio que muito menos da viuva do Gurgel. A Guarda Mor foi obtida por posse de terras devolutas, posse essa já registrada em relatório de 1820 existente lá no DAESP, SP:
Oliveira, Baltazar Joaquim de Oliveira, Tenente Comandante, Bens Rústicos de Lages em 1820, DAESP, n. de ordem CO 9869in Revista ABRASP 6. Marcelo Meira Amaral Bogaciovas, Nota 104, pag. 54-55.
"Trancrito por Marcelo Meira do Amaral Bogaciovas em Revista ABRASP n. 6.".

"Laureano José de Ramos (nota 104) era senhor de uns campos denominados Guarda Mór , cujos campos obteve por devolutos e tinha de frente meia légua e de fundo três Léguas. Tinha cultivado com animais vacum e cavalar, custeando com gente alugada. Confrontava-se por uma parte com o Capitão Mor Ignácio de Almeida Leite e por outra com a fazenda de Inácio Antunes."

Mais tarde e a requerimento de D. Maria Gertrudes de Moura (esposa), porque Laureano já era falecido (28/04/1862), foi a posse legitimada, na forma da Lei em vigor, sendo expedido pelo Presidente da Província, o respectivo título de propriedade (cfe Lei de Terras) O processo de Legitimaçào está arquivado no Arquivo Geral do Estado, sob n. 210010, gaveta 439 do AGE (Conforme constou no Livro Coxilha Rica e tenho uma cópia deste Processo e do Mapa feito para aquela regularizacao).

Resposta aos itens "e e f" pode ver lá no meu Blog onde transcrevi (do original ) o Inventário de Laureano.

Ele só possuia a Guarda Mor e nào tinha adiantado nenhuma outra fazenda a qualquer de seus filhos (adiantamentos de legitimas). Até agora nào localizei documentos que comprovem Laureano ter sido dono de outra fazenda além da Guarda Mor. Mas foi importante pecuarista nos seus ultimos anos de vida.

Trato cumprido.

Entào, "inté", e boa semana para vocês! Boa Festa do Pinhão!

Agradecido, pergunto se posso blogar os seus esclarecimentos oficiais abaixo. Essa dialética entre nós dois é muito boa. A ciência nos ajuda a clarear as coisas, mas essa não é a minha preocupação. Minha fixação é no pitoresco, nas entrelinhas, mesclando ficção com realidade. Até porque a verdade é relativa, existem muitas verdades e grandes mentiras históricas para favorecer os mais fortes e vencedores. Sob essa ótica vejo os Ramos da Coxilha Rica como bem sucedidos politicamente, e nossos antepassados Arruda, melhor dotados economicamente, como um fracasso em vários sentidos vitais.  Quem nasceu e se criou com água de poço, privada de fundo de quintal, lampeão e lamparina de querosene e luz de velas pode ter uma visão distorcida da realidade lageana. Mas é assim que eu vejo e não tenho a menor disposição em mudar a marca de meus óculos. Quer que lhe envie cópias da Revista e do livro Abra e Ache? Tem fotos e textos sobre todo o Corredor das Tropas, de Viamão a Sorocaba!

Um grande abraço.   

José Carlos

Primo,

O que já está publicado  pode bloguear sim.

Apenas nào gostaria que fossem divulgadas as pesquisas que sào minhas e que ainda nào publiquei e carecem também de um pouco mais de pesquisas para cotejarem-se alguns dados.

Olá Prima,

É admirável sua disposição de pesquisa. Eu não tenho essa tamanha disposição. Apenas gosto de juntar fragmentos de livros, revistas, blogs, etc., para montar meus textos, a maioria deles com uma pitada de fantasia. Como já lhe disse antes, não tenho a menor preocupação com o rigor científico, histórico e genealógico. Prefiro mais usar o que chamo de “aritmética lógico lingüística” (eu mesmo inventei essa coisa) para interpretar os fatos do meu jeito. Por exemplo: A grande maioria dos políticos e fiscais são corruptos. As estatísticas não mentem. Sendo corruptos, logo ficam ricos. Rico mente a dar com um pau para enganar o pobre e para se manter rico. Dedução lógica: Os Ramos eram políticos, ricos e grandes mentirosos! E os Arrudas também!!!

Fiquemos por aqui.

Abração,

José Carlos

"Em Off", é possivel que os jovens Vidalzão e o Coronel dos Coroneis José Maria Domingues de Arruda (esse tinha ouro em lingotes) tivessem alguma diferença de divisas na imensa Fazenda Guarda Mor, onde ficava a "milagrosa" Guarita Imperial sob os cuidados de Vidalzão. O Coronel consumiu um tempão e uma grana medonha para fazer o primeiro "georreferenciamento" da Fazenda, delimitando suas confrontações, e o respectivo registro cartorário em Curitibanos (naqueles idos tempos o cartório era lá). Para arrematar: o pessoal da Família Arruda da Serra Catarinense, mesmo ricos, nunca foram bons políticos. O mais expressivo foi Indalécio Arruda, filho do Coronel José Maria, que chegou a ser Deputado Estadual e duas vezes Prefeito de Lages. Já os Ramos dispensam maiores comentários. Político é político, ontem, hoje e sempre!
 


 

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