sexta-feira, 17 de maio de 2013

A LENDA DA BRUACA DE OURO

POVOAMENTO DA COXILHA RICA



Conta o poeta militar Coronel Tiarajú, o último Ex Prefeito de Caçapava do Sul (RS), que a lista telefônica de lá tem um aroma especial, magnífico e inconfundível de Arruda. Sim, arruda, aquela erva poderosa que cura qualquer tipo de mal do vivente e tem um dom especial de espantar quebrante, zóiudos, mal olhado, enfim, olho gordo e por aí vai. Em Caçapava tem Arruda e arruda para todo lado que se vá.

Pouco antes do início da Revolução Farroupilha a Família Arruda se dividiu em três grupos: o grupo republicano, que haveria de lutar ao lado de Netto e Bento Gonçalves; o grupo imperial que faria fileiras junto com a tropa do Moringue e a família de José Domingues de Arruda, que não estava disposto a lutar de nenhum dos dois lados. José juntou tudo que possuía, convidou dois amigos para um êxodo rumo Norte pelo Corredor das Tropas trazendo, os três, uma imensa manada de animais e uma mula de José com uma carga especial, especialíssima, cheia de lingotes, seu quinhão de herança deixado pelos seus antepassados bandeirantes do Ciclo do Ouro de Minas Gerais.

Chegando à Coxilha Rica ao atravessar o Passo de Santa Vitória já não havia mais terras por perto disponíveis para venda, pois o carpinteiro/tropeiro Laureano José de Ramos e seu filho Vidal (O Vidal Ramos Sênior) já haviam comprado o que era possível naquela época e anexado terras devolutas à sua Fazenda Guarda Mor. Então José e seus amigos das Famílias Ribeiro e Camargo empreenderam algumas viagens para o Paraná (Castro) a procura de donos de terras adjacentes, sob pena de perderem o rebanho por falta de pastagem.

Numa dessas viagens José encarregou seu filho Joãozinho (de baixa estatura) para fazer a compra de um terreno ali por perto. O proprietário ao ver aquele jovem mirrado disse a ele que o negócio precisava ser tratado com o pai dele. Joãozinho não se deu por pequeno: - Fica tranquilo. Tenho aqui o suficiente para comprar umas dez fazendas do tamanho dessa sua! E tinha mesmo. Lá se foi um lingote da bruaca.
Pouco tempo depois chegava à Coxilha o Frei Rapa Bocó, aquele famoso franciscano encarregado de levantar fundos para a Catedral de Lages que fazia uma reza única para ministrar todos os sacramentos e não perder tempo com ladainha. Ao visitar José Maria Domingues de Arruda, o Coronel dos Coronéis, puxou na sua Bíblia aquela parábola que diz ser ”mais fácil um camelo entrar no buraco duma agulha do que um rico no reino dos Céus”. O susto do Coronel foi tão grande que Rapa Bocó saiu de lá com três lingotes de ouro. Por isso o interior da Catedral tem esse belo aspecto dourado, feito com material e mão de obra de excelente qualidade.
O que não foi consumido da lendária bruaca na compra de várias das Antigas Fazendas da Coxilha Rica, dos Morrinhos e do Cajurú, os descendentes de José Domingues de Arruda gastaram na velha raia dos tropeiros existente num trecho da Avenida Camões no Bairro Conta Dinheiro e nos fechamentos de casas por uma semana no Triângulo, fazendo a alegria das garotas de vida fácil e difícil. Rapa Bocó em lugar de benção deixou uma maldição. Não rapou o bocó do Coronel o suficiente no seu entendimento.           
                  




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